Passando, pouco depois do almoço, pelo Mini-Auditório do Teatro Guaíra, entrei de abelhudo no ensaio geral de “Pessoalmente Fernando”, o espetáculo de teatro que o Áldice Lopes dirige, a partir de um texto meu e com o Rafael Camargo. Um monólogo. Para escrevê-lo li um tanto de Fernando Pessoa e seus heterônimos e aí me entreguei a uma suave adaptação. Naturalmente, sem muitas pretensões. Ler e pensar Fernando Pessoa é uma das coisas mais lindas que uma pessoa pode fazer por si mesma. O oitavo poema do Guardador de Rebanhos, por exemplo, é a escrita mais emocionante da língua portuguesa. Os livros de Fernando devem estar sempre num lugar bem alto da biblioteca, mas a uma altura fácil, pra que você possa alcançá-los sem precisar subir na ponta dos pés, mas também, ajoelhar-se diante deles, sempre que precisar de inspiração. Pensei um personagem que falasse pela boca de Fernando, de Alberto e de Ricardo. Pensei, sabe-se lá por quê, um homem solitário. E afinal, solitários somos todos. Nascemos, vivemos e morremos sozinhos. O sujeito de “Pessoalmente Fernando” não sabe a diferença entre estar sozinho e ser solitário. O mundo inteiro à volta e é preciso estar sozinho para se familiarizar consigo mesmo. Pensei em usar... emprestar? roubar? ... as palavras de Fernando para encenar a intimidade de um homem que foge de si mesmo... e se encontra em 50 minutos de espetáculo. Um tempo tão curto, não? Mas a arte precisa ser uma experiência subjetiva e numa aventura poética o tempo não tem significado algum. Pois bem, voltando ao ensaio geral. Fiquei muito emocionado vendo o Rafael encantadoramente perfeito num palco vazio e dizendo o texto com sensibilidade, talento, paixão e madureza. O Áldice dirigindo sua primeira peça com a autoridade de um veterano conhecedor da vida e do teatro. Sempre ouvi muito o Áldice durante todo o tempo em que fizemos teatro juntos (e foram muitos anos! Desde 1984!). Eu como diretor, ele como ator. Gostei demais de vê-lo também amadurecido e de uma sensibilidade artística rara. Prova de que nunca se perde a majestade. Nunca! Mas vi só um pedaço do ensaio geral. Amanhã é a estréia e acho que vai ser um dos mais diamânticos (inventei uma palavra) momentos teatrais curitibanos de 2007. Merda!
Escrito por Edson Bueno às 21h51 do dia 08/11/2007.
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