"O teatro tem um cenário tão amplo que ilusioramente a platéia acredita que ele se restringe ao palco. Ledo engano. Ao artísta, o território por onde ele circula inclui os bastidores, as horas de laboratórios e ensaios, a burilação no descobrimento de novas tessituras humanas"
Ator, diretor, figurinista, produtor de moda, maquiador e diretor de produção, Áldice Lopes construiu sua carreira sob a marca do talento, da dedicação a arte e das experimentações em diversos campos da expressão artística.
A estreia no palco aconteceu com o espetáculo O Arquiteto e o Imperador da Assíria, de Fernando Arrabal (83), no extinto curso do CPT - Curso Permanente de Teatro da Fundação Teatro Guaíra.
Ainda no CPT participou das seguintes montagens, O Rinoceronte de Eugene Yonesco (83), O jardim das Cerejeiras de Anton Thehkov (84), Tambores na Noite de Bertold Brecht (84) e O Balcão de Jean Genet (85).
Paralelamente ao curso, Áldice Lopes, Edson Bueno, César Almeida e Silvia Monteiro, descobriram que o melhor aprendizado consistia no fazer teatro. Com esse objetivo formou se o Grupo Coisa Toda (83). A proposta de trabalho era de um grupo estável, em que autores, diretores, músicos etc...se integrassem participativamente a todos os níveis na produção de espetáculos inéditos. A primeira peça montada foi Aceitam-se Encomendas de Vestidos de Noiva de César Almeida.
A segunda montagem do Grupo Coisa Toda, seria ainda no segundo semestre de 1983, com Mulher Bolero de Edson Bueno. O grupo na verdade, já estava dividido, permanecendo juntos, em Mulher Bolero, Edson Bueno, Silvia Monteiro e Áldice Lopes, que viriam a ser os criadores do Grupo Delírio Cia de Teatro.
Em 1984, o Delírio ousou produzir, e que permanece gravado a fogo na retina daqueles que viram e jamais o esqueceram!! (ou será que já esqueceram? Afinal este País tem memória tão curta...) O lado negro do besteirol? Vísceras apodrecidas de Sigmund Freud? Fatal influência dos quadrinhos de terror no teatro? A face obscura da repressão sexual!!!... De muitas formas foi definido Um Rato em Família sem que se chegasse a um acordo final.
O fato é que a montagem do espetáculo Um Rato em Família definiu o estilo provocativo de subir ao palco. Com um Rato em Família, viria a descoberta do "delirar" em cena, consequentemente, a linha de trabalho e o nome Grupo Delírio Cia de Teatro.
A principio, a construção de Um Rato em Família limitou se a uma pesquisa que envolveu elementos tão diferentes como: literatura kafkaniana, a revista em quadrinhos Kripta, o teatro do absurdo, a fantasia inocente de Disney, Freud e seus complexos, Poe e sua morbidez romântica, Nelson Rodrigues, as ditaduras latinas. Tudo isso recheado de muita sombra, inquietude, expressionismo, e afins metamorfoseou-se no palco em uma surpreendente comédia negra!...de consequências imprevisíveis conforme a cabeça do espectador, com exceção é claro, da gargalhada infalível. Texto e direção de Edson Bueno e no elenco, Áldice Lopes, Silvia Monteiro, Luis Carlos Pazello, Maria Adélia Ferreira, Carlos Simioni, Paulo Martins, Eliane Karas e Paulo Sergio Ramo.
Durante a encenação do "Rato", o Grupo Delírio Cia de Teatro teria seu primeiro confronto com a censura, que liberou integralmente o texto, mas fez cortes na encenação a censura ainda era "apenas" estética, esta briga cresceria na montagem seguinte, "O Grande Deboche"(84), de Edson Bueno e Silvia Monteiro, onde a "celebração" Musical, da liberdade da Nova República recém inaugurada, pelo Grupo, teria o texto integralmente vetado pela censura, sendo liberado após recurso do Grupo ante o Governo Federal. O Deboche era o espírito, a realidade do Grupo, mais uma vez a liberdade era posta em questão.
Em 1986, A Sedução, adaptação e direção de Edson Bueno, para o conto de Oscar Wilde, O Pescador e Sua Alma, o Grupo Delírio Cia de Teatro mergulhou na poesia e no lirismo da encenação. Sendo este o primeiro trabalho como "profissionais" reconhecido pelo Sindicato do Artistas,...(O que mudaria???).