quarta-feira, 24 de junho de 2009

A fábula negra da infância marca Kafka


Danmiel Castellano/Gazeta do Povo /

Antes de morrer, o checo Franz Kafka (1883-1924) teria pedido a um amigo que tocasse fogo em todas as páginas que deixara escritas. A solicitação não atendida, embora talvez guardasse um traço de vaidade, depõe sobre a relação angustiada que tinha com sua literatura. O autoritarismo com que o autor, ainda jovem, enxergava o ato de escrever – opressivo como o pai, o sexo e a religião –, serviu de argumento ao dramaturgo e diretor Edson Bueno, para a confecção da peça Kafka – Escrever É Um Sono Mais Profundo do Que a Morte.

“Vocês sabem que me faz muito mal escrever. É como se eu estivesse vomitando. Cuspindo sangue pela boca”, diz o ator Marcel Gritten (foto), intérprete do futuro escritor ainda menino, num cenário sombrio que desloca o espectador do Teatro Novelas Curitibanas para a Praga do século 19. “Quando eu crescer, vou abandonar as palavras, não quero nem pensar.”

Tintas expressionistas desbotam sua infância, tratada pelo grupo Delírio como uma fábula negra, em que as figuras da imaginação do garoto se materializam para atormentá-lo, já não bastassem o medo e a culpa originados do contato com o pai repressor e uma sociedade que perseguia judeus. Ou seriam exatamente reflexos internos desse exterior. (LR)

Fonte: Publicado em azeta do Povo, 12/06/2009

Danmiel Castellano/Gazeta do Povo


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